Mata Atlântica cobre 17 estados brasileiros. Foto: Irimar José da Silva
Para falar da Mata Atlântica, primeiro é preciso entender o que ela é. Segundo explica Carolina Mathias, engenheira florestal da Fundação SOS Mata Atlântica, "podemos defini-la como um bioma com vários ecossistemas, que tem desde mangue até floresta tropical". Ou seja, a Mata Atlântica não é apenas aquela floresta atlântica que se vê perto do litoral, mas um bioma ou uma junção de ecossistemas com características comuns e com processos ecológicos que se interligam. Nesse caso, essas características seriam, além da ocorrência geográfica, a proximidade com o litoral e as formações florestais em um contínuo, que se estende até o serrado, a caatinga ou os campos. "Outro ponto importante é que a Mata Atlântica tem árvores grandes e de dossel contínuo, ou seja, com copas que se tocam", diz Carolina Mathias. Esse bioma ainda tem mais de 22 mil espécies, quase nove mil delas endêmicas (que só existem nesse bioma), superando a biodiversidade da Amazônia. Infelizmente, 383 desses animais e plantas estão ameaçados de extinção. A extensão territorial da Mata Atlântica também impressiona - vai desde o Rio Grande do Sul até o Piauí, cobrindo 17 estados. Originalmente, ela compunha 15% do território brasileiro, mas hoje só restam 7% desse bioma.
Hoje, a Mata Atlântica ainda pode ser encontrada em quase todo o país (menos no Mato Grosso, Maranhão e Região Norte), mas em pequena quantidade. A maior concentração está no Vale do Ribeira, em São Paulo. Ao todo, existem 860 unidades de conservação da Mata Atlântica no Brasil, que vão de pequenos sítios até parques estaduais. Muitos desses parques são abertos à visitação e podem ser uma boa forma de conscientizar os alunos da importância de preservar o meio-ambiente. Beatriz Siqueira, coordenador do projeto Mata Atlântica vai à Escola da Fundação SOS Mata Atlântica, conta que existem vários projetos em andamento para tentar salvar o que ainda resta do bioma. "O que está sendo feito hoje são ações de restauração e replantio de árvores que compõem a flora original da mata. Também estão sendo criadas muitas áreas de conservação, principalmente em propriedades particulares", diz. A ecóloga ainda explica que cada um de nós pode ajudar a manter a floresta em pé com ações do dia-a-dia, como economizar água, energia elétrica e diminuir a poluição. "Se cada um de nós gastar menos energia, por exemplo, vamos precisar de menos hidrelétricas, o que ajuda a manter a mata. Pois para construir uma usina é preciso desmatar e inundar uma grande área de floresta", diz Beatriz. Preservar a Mata Atlântica ainda pode ajudar a diminuir o aquecimento global. Isso porque, além da floresta ser responsável por absorver carbono, é muito comum no Brasil fazer queimadas para transformar a mata em área de agropecuária. E esse tipo de ação é o principal responsável pelas emissões de carbono no nosso país. Por outro lado, o aumento da temperatura da Terra pode afetar a Mata Atlântica, já que muda as características dos ecossistemas. "A maior preocupação é com a fauna. O aquecimento pode matar várias espécies", alerta Beatriz.
NOTÍCIAS PUBLICADAS NO SITE DO MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE E EM NOSSO BLOG MMA
Memória do clima será recuperada pelo MMA em arquivo digitalizado Reprodução
Futuro arquivo: pesquisa simplificada
Projeto incluirá chuvas e estiagens no Brasil desde o século XIX
Por: Lucas Tolentino - Edição: Marco Moreira
Estudada de maneira histórica pelas autoridades brasileiras, a previsão
do tempo entrou como aliada nas medidas de combate e adaptação ao
aquecimento global. Informações sobre secas, tempestades e outros
eventos climáticos ocorridos no país desde o século XIX serão
recuperados com a conclusão, prevista para este ano, de ação financiada
pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).
Mais de R$ 6 milhões foram investidos, por meio do Fundo Nacional sobre
Mudança do Clima (Fundo Clima), no projeto do Instituto Nacional de
Meteorologia (INMET), órgão ligado ao Ministério da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento. A iniciativa inclui a digitalização,
conversão, importação e armazenamento em formato digital no banco de
dados do órgão federal.
PAPÉIS
Ao todo, 12 milhões de documentos com dados meteorológicos desde o fim
dos anos 1800 fazem parte do acervo do INMET. Como se encontram em
papéis amarelados, os arquivos não podem ser usados, atualmente, para
estudos climáticos e de frequência de fenômenos e desastres naturais de
natureza atmosférica.
O armazenamento dos dados em um centro de documentação centralizado
garantirá a segurança e a integração da memória do clima do Brasil. Além
disso, a migração para o banco de dados já existente facilitará as
consultas e o intercâmbio de informações com os setores acadêmicos,
públicos e privados de maneira mais rápida e eficaz.
CURIOSIDADE
Apesar de o INMET ter sido criado em 1909, os primeiros registros das
condições meteorológicas no país remontam ao fim do século XIX. Esses
documentos históricos foram produzidos em diversos formatos de papel,
que vão de livros e cadernetas até formulários de registradores. Neles,
eram inseridas informações numéricas pontuais, resultantes da coleta de
dados realizadas por um observador ou registros contínuos por
equipamentos mecânicos.
Além da dificuldade de acesso, o manuseio rotineiro dos arquivos provoca
a perda de resistência e o envelhecimento precoce da documentação. Para
que possam ser digitalizados, os livros e cadernetas foram armazenados,
em caráter transitório, em um galpão na sede do INMET, em Brasília.
SAIBA MAIS
Pioneiro no apoio a pesquisas e programas de mitigação e adaptação, o
Fundo Clima é um dos principais instrumentos da Política Nacional sobre
Mudança do Clima (PNMC). Com natureza contábil e vinculado ao MMA, é
administrado por um comitê formado por representantes de órgãos
federais, da sociedade civil, do terceiro setor, dos estados e dos
municípios.
Apesar de considerado um fenômeno natural, o efeito estufa se
intensificou nas últimas décadas, acarretando mudanças climáticas. Essas
alterações resultam do aumento descontrolado das emissões de gases como
o dióxido de carbono e o metano. A liberação dessas substâncias é
consequência de atividades humanas como o transporte urbano, o
desmatamento, a agricultura, a pecuária e a geração e o consumo de
energia.
Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA) – Telefone: 61.2028 1227
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015
MMA e Universidade de Madri negociam cooperação técnica
Martim Garcia / MMA
Proposta prevê transferência de tecnologias na área de abastecimento de água e saneamento
Por: Paulenir Constâncio – Edição: Marco Moreira
O Ministério do Meio Ambiente (MMA) e o Instituto Tecnológico da
Universidade Politécnica de Madrid abriram, nesta sexta-feira (06/01),
Gaetani: Crise hídrica reabre
o debate em Brasília, entendimentos
para assinar acordo de cooperação técnica para o desenvolvimento
sustentável do semiárido. A proposta foi apresentada ao secretário
executivo do MMA, Francisco Gaetani, pelo diretor de Cooperação para o
Desenvolvimento da instituição, Manuel Sierra Castañer e prevê
capacitação de especialistas e a transferência de tecnologia em manejo
florestal para a Caatinga
A instituição espanhola quer levar à região do Cariri, nos Estados do
Ceará, Pernambuco e Paraíba, sua experiência no Centro Xingô de
Convivência com o Semiárido, onde atua em parceria com organizações
não-governamentais há mais de dez anos. Seis municípios da região estão
em processo de desertificação, decorrente do avanço do desmatamento pela
agropecuária e indústria gesseira, agravado pelos efeitos das mudanças
climáticas.
INTEGRAÇÃO
A parceria pode contribuir para integrar os dois países em uma pauta
comum. “A Espanha é um grande semiárido”, comparou o professor da
universidade madrilenha. O convênio poderá ser firmado no âmbito da
Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação, da qual os
dois países são signatários. O Brasil prepara o documento que será
levado à COP da desertificação em Cancun, México, em setembro.
Gaettani solicitou ao Departamento de Combate à Desertificação (DCD), do
Ministério do Meio Ambiente, a formulação de uma agenda comum com a
instituição espanhola, que tem experiência em modelos de parceria
público-privadas para serviços básicos. Salientou a crise de recursos
hídricos no Brasil pode trazer de volta o debate sobre arranjos entre
governos e empresas para a solução de problemas relacionados à água e ao
saneamento. Os problemas de gestão da água estão associados diretamente
no bioma.
De acordo com o diretor do DCD, Francisco Campello, a troca de
experiências tem potencial para produzir mudanças na maneira como o
Brasil enfrenta a convivência com a semiaridez. “Falta à sociedade
qualificar o problema da desertificação, que já atinge nove estados e
mais de 1500 municípios”, acrescentou.
Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA) - Telefone: 61.2028 1227
domingo, 15 de fevereiro de 2015
Governo Federal e Estados se unem para consolidar o CAR
Martim Garcia/MMA
Izabella (D): "CAR é essencial para combater desmatamento"
Cadastro
Ambiental Rural é obrigatório e deve ser feito em todo o país. Cerca de
40% do território nacional já está inscrito no sistema
Por: Lucas Tolentino – Edição: Alethea Muniz As ministras do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e da Agricultura,
Pecuária e Abastecimento, Kátia Abreu, reuniram-se nesta quinta-feira
(05/02) com os secretários estaduais e do Distrito Federal das duas
áreas. No encontro, elas reforçaram a necessidade da regularização
ambiental dos imóveis rurais nos moldes da nova Lei Florestal, por meio
do Cadastro Ambiental Rural (CAR).
O CAR é um registro eletrônico, obrigatório para todos os imóveis
rurais, que deve ser realizado pelos proprietários até 5 de maio deste
ano. "O CAR é essencial para o combate ao desmatamento e também para
preservação do cerrado", destacou Izabella Teixeira. “Além disso, o CAR
serve para o planejamento ambiental e econômico”, explicou a ministra do
Meio Ambiente.
Até o momento, foram cadastrados 550 mil terrenos, que somam área
equivalente a 132,1 milhões de hectares no país. O dado mostra que cerca
de 40% de todo o território nacional já está na base de dados do CAR.
“Há uma grande receptividade por parte dos Estados para a efetivação do
Cadastro Ambiental Rural”, avaliou a ministra.
Izabella Teixeira descartou a prorrogação de prazo para inscrição dos
imóveis rurais no sistema, previsto para terminar em maio deste ano.
“Um dos objetivos dessa reunião com os secretários de estado é avaliar
quais são os esforços deles para cumprir o prazo”, explicou. A ministra
destacou que as estratégias para divulgação do CAR incluem mutirões,
campanhas educativas, premiações e cooperação com órgãos como o
Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).PRODUTOR DE ÁGUA
Além de garantir o cumprimento da Lei Florestal e o desenvolvimento
sustentável no país, a parceria tem o objetivo de promover a agricultura
e produção familiar em diversas áreas. De acordo com a ministra Kátia
Abreu, o produtor de água está entre os focos dessa ação. “Ele tem de
ser reconhecido como um importante gerador de ativo ambiental por fazer
muito bem esse tipo de produção e de proteção”, destacou a ministra da
Agricultura.
A implantação do cadastro garantirá a recuperação de áreas degradadas
e a promoção da produção agrícola no país. “O CAR é um instrumento
único para mostrar a transparência nesse processo”, afirmou Kátia. “Os
produtores não devem temer o CAR. É preciso temer ficar na ilegalidade e
em situação de insegurança jurídica”, acrescentou.O CADASTRO
Todas as propriedades rurais do país precisam ser cadastradas no
Sistema Eletrônico do CAR (SiCAR), com imagens georreferenciadas de todo
o território nacional. As inscrições são condições necessárias para que
os imóveis façam parte do Programa de Regularização Ambiental (PRA).
Isso dará início ao processo de recuperação ambiental de áreas
degradadas dentro dos terrenos, conforme prevê a Lei 12.651, de 2012, a
chamada Lei Florestal.
A inscrição no CAR é realizada por meio do SiCAR, que emite um
recibo, seguindo a mesma lógica da declaração do Imposto de Renda. É
possível, inclusive, fazer retificações caso haja informações
conflitantes. Depois de cadastrados, os proprietários ou posseiros com
passivo ambiental relativo às Áreas de Preservação Permanente (APPs), de
Reserva Legal (RL) e de Uso Restrito (UR) poderão aderir aos PRAs da
unidade da federação em que estão localizados.
Caso não faça o cadastro, o responsável pelo imóvel ficará
impossibilitado de obter crédito rural, além de entrar em situação de
insegurança jurídica. O CAR, no entanto, não tem relação com questões
fundiárias. Ou seja, é um documento declaratório sobre a situação
ambiental de uma área cuja responsabilidade de manutenção é daquele que
declarou e, portanto, não gera direitos sobre a forma de uso do solo.SAIBA MAISÁrea de Preservação Permanente (APP): Área
protegida, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental
de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica,
a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o
solo e assegurar o bem-estar das populações humanas.Reserva Legal (RL): É uma área localizada no
interior de uma propriedade rural, que não seja a APP, necessária ao uso
sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos
processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e
proteção de fauna e flora nativas.Uso Restrito (UR): Áreas de inclinação entre 25° e 45°.
sábado, 14 de fevereiro de 2015
Manejo florestal melhora vida de mil famílias no semiárido do Nordeste Paulo de Araújo/MMA Antônio: manejo sustentável Na Serra do Araripe, entre Ceará, Pernambuco e Paraíba, lenha é retirada de forma sustentável.
Por: Pauleinir Constâncio – Edição: Marco Moreira
O
manejo florestal representa renda adicional que está mudando a vida de
mil famílias no semiárido nordestino e reduzindo a pressão do
desmatamento sobre os processos de desertificação. Na Serra do Araripe,
região entre os estados do Ceará, Pernambuco e Paraíba, em pouco menos
de três anos pequenos produtores rurais e assentados do Instituto
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) viram sua renda
familiar mais que dobrar com a venda de lenha sustentável para as
indústrias de cerâmica e gesso. É o que conta Antônio Esmero do
Nascimento, 54 anos, pai de 14 filhos radicado na Fazenda Barra Grande,
uma gleba de 8 mil hectares, dos quais 2 mil estão em regime de manejo
por 20 anos. Natural de Jardim, no sertão pernambucano, ele migrou para o
assentamento em Jati, no Ceará, para trabalhar no Plano de Manejo
Florestal Comunitário Sustentável da Caatinga. OVELHAS
Antônio,
que sempre viveu do trabalho na roça, diz que a nova fonte de renda já
permitiu com que comprasse quatro cabeças de gado. “Agora posso tirar um
leite para dar a uma criança”, conta com alegria. Ele está começando
também uma criação de ovelhas “devagarinho”. Por dia, chega a cortar até
3 m3 de lenha, bem acima da média per capita local. “E com a orientação
do jeito certo de cortar, pode ver que o mato já tem mais de um metro
em menos de oito meses”, explica. Dos filhos de Antônio, os três mais
velhos migraram para São Paulo, mas os pequenos vivem com o ele. “Antes
a gente acordava os meninos para trabalharem na roça – era assim no
tempo do meu pai – mai hoje é para ir à escola”, diz o agricultor que é
beneficiário de outros programas do Governo Federal e tem ônibus escolar
na porta para percorrer os 20 Km entre o assentamento e a sala de
aula. Ele relata que “trabalhava na meia” nas terras dos outros e o que
“tirava” era só para a subsistência. Agora, explica, sempre sobra um
pouco com a renda da lenha. Não revela quanto é, mas abre o sorriso
quando fala do assunto. VINTE ANOS Em Baixa Grande a área de
manejo florestal foi dividida em 19 pedaços a serem cortados anualmente.
O primeiro foi concluído e deu mais lenha que a absorvida pelo mercado.
Só volta a ser cortado daqui a 20 anos. A regeneração esperada é de
100%. O diretor do Departamento de Combate à Desertificação, Francisco
Campello, afirma existirem estudos que apontam até para o enriquecimento
da biodiversidade, já que espécies quase extintas na área manejada
reaparecem. Mas os assentados na Serra do Araripe ainda enfrentam
problemas para colocar o produto no mercado. Pela legislação, só podem
vender para comprador legalizado, trabalhando dentro da proposta de
sustentabilidade estabelecida em licenciamento ambiental. Caso não
retire toda a lenha anualmente, para explorar todo o restante da área
precisam nova licença dos órgãos ambientais. O manejo florestal
comunitário é parte da estratégia do Ministério do Meio Ambiente para o
combate à desertificação e convivência com a semiaridez. Os programas
têm como foco a promoção do desenvolvimento com sustentabilidade e
conservação da paisagem da Caatinga. As ações previstas promovem a
geração de renda e inclusão social, seguranças hídrica, energética e
alimentar dos rebanhos, conservando a biodiversidade.
Assessoria de Comunicação Social (Ascom/MMA)
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015
Comunidades Quilombolas e biodiversidade no Maranhão
As comunidades quilombolas de São Miguel, Rosário, Cariondo, Itapecuru, Bom Jesus e Matinha situam-se em regiões geográficas distintas do estado do Maranhão, mas apresentam dificuldades semelhantes, principalmente, com relação à regularização fundiária e acesso aos recursos da biodiversidade. A biodiversidade passou a ser aclamada, reivindicada e declamada como se fosse uma deusa da providência. As pessoas desconhecem que em muitos casos a biodiversidade se encontra debaixo de fogo cerrado da especulação imobiliária, do agronegócio e de grandes obras de infraestrutura. Nesse fogo cerrado, a biodiversidade se afasta das vistas das pessoas que a usam, que a promovem e que dela tiram seu sustento.
A biodiversidade, então, ou vira uma relíquia, para ser apreciada, ou vira um objeto, para ser estudado, ou vira uma lembrança, para ser esquecida. Com relação à comunidade de São Miguel, a biodiversidade se tornou uma lembrança não de bons tempos do passado e sim a lembrança que um dia ela esteve ao alcance das mãos e que, pelas própria mãos das pessoas da comunidade, perdem-se vários aspectos da biodiversidade no seu território. Alguns moradores de São Miguel derrubam o bacuri verde. Outros moradores cortam o bacurizeiro para vendê-lo às serrarias. Roçar e queimar os brejos em São Miguel ainda é uma prática comum, o que afeta a preservação dos recursos hídricos e a produção de juçara e de buriti.
Antes de culpar os agricultores familiares em São Miguel, deve-se entender como a falta de assistência técnica e de capacitação em temáticas socioambientais interage com a urgência desses agricultores em obter rendimentos para sua sobrevivência. O seu Manoel comenta o dia em que pediu a visita de técnicos do município de Rosário para que eles opinassem a respeito de uma praga que atacava o seu plantio de melancia. Os técnicos não se deslocaram, e ele se virou com a borrifação de agrotóxico, que resultou em perda e prejuízo para ele e para a comunidade.
Quanto mais a comunidade se afasta da biodiversidade, mais ela se afasta do interior do seu território e do seu histórico. As mulheres de Cariondo cultivam, em seus quintais, ervas medicinais e verduras. Quando se pergunta sobre o babaçu, elas respondem que não quebram mais porque cansa muito e que o babaçual próximo à comunidade não se torna adulto em razão da retirada de palha para que algumas pessoas a vendam. Ao ouvir as mulheres de Cariondo sobre o babaçual, a pessoa fica com aquela impressão de que não existe mais biodiversidade na comunidade. Se a biodiversidade abandonou Cariondo como as mulheres expuseram, qual é o diferencial da comunidade?
As pessoas se conformaram com os condicionamentos impostos pelas fazendas ao redor, que tomaram seu território, e conformaram-se com a modernidade que oferece vários produtos para o consumo. O óleo de soja pode ser ruim, mas vem embalado, pronto para ser despejado na frigideira. Para obter o azeite de babaçu tem que quebrar o coco. Na cabeça das mulheres reside a lembrança que o coco não tinha valor monetário. E pelo visto ainda não tem. E qual é a importância de quebrar coco? As experiências do Movimento Interestadual de Quebradeiras de Coco babaçu por todo o Maranhão quebraram muitos preconceitos ao desenvolverem projetos que utilizam o babaçu para fins de indústria de cosméticos e para fins de segurança alimentar. Quanto à existência ou não de biodiversidade em Cariondo, as mulheres se recordaram de babaçuais que estão dentro do território e que, por não terem uso, acabaram sendo esquecidas.
O acesso aos recursos da biodiversidade em Matinha sofreu um revés com o veto do prefeito Beto Pixuta ao projeto Babaçu Livre apresentado pelas comunidades quilombolas e aprovado pela câmara de vereadores. Dona Rosário, dirigente do MIQCB e liderança da comunidade Bom Jesus, cobrou explicações ao prefeito, que justificou o seu veto dizendo que não queria criar inimizade nem com os fazendeiros e nem com as quebradeiras. A alegação oficial do prefeito foi que não houve audiência pública. A resposta de Dona Rosário foi “então marque a audiência se for o caso”.
A área de Bom Jesus, comunidade de Dona Rosário, estende-se por mais de quinze mil hectares; contudo, as famílias são impedidas por cercas de catar o coco babaçu, o buriti e o bacuri na floresta e de pescar nos campos. O mais recente conflito se verificou com um proprietário que cercou uma área de babaçual em frente à comunidade, queimou dentro e botou gado. Só não cercou a igreja porque a comunidade impediu.
Esta imagem é parte da publicação "Amazônia Maranhense: diversidade e conservação". Bioma no Maranhão recebe pouca atenção do poder público, da ciência e da população maranhense. Crédito: Divulgação/Goeldi
A Amazônia maranhense é dona de rica biodiversidade, ocupa 26% do bioma amazônico, encontra-se em 62 municípios do Maranhão e representa, em termos de bioma, 34% do território do Estado. No entanto, ela corre o sério risco de desaparecer. Há anos vem sofrendo com desmatamentos, retirada ilegal de madeira, mineração, produção de carvão, caça excessiva e criação de gado. Além disso, recebe pouca atenção do poder público estadual e federal e sua importância é ignorada por grande parte dos maranhenses.
Localizada em uma área de transição entre o Nordeste e a região amazônica, em seus 81.208,40 km² já foram encontrados 109 espécies de peixes, 124 de mamíferos e 503 de aves. É lar do gavião real e de espécies ameaçadas como os primatas Cairara Ka’apor (Cebus kaapori) e Cuxiú-preto (Chiropotes satanas). Possui, em média, 570 árvores por hectare de pelo menos 100 espécies. De acordo com o estudo “Amazônia Maranhense: diversidade e conservação” lançado em 2011 como resultado de uma parceria entre o Programa de Pesquisa em Biodiversidade Amazônia Oriental (PPBio), Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Meio Ambiente (MMA), trata-se de "uma das porções mais expressivas em termos de riqueza de espécies e endemismos".
Na contramão da importância de sua biodiversidade, o Maranhão encontra-se entre os Estados que mais desmataram a floresta. Conforme informações do sistema Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), até 2010 71,05% do Estado havia sido desmatado. De 1984 a 2000 a taxa de desmatamento da área de floresta ombrófila na região teve média de 1,62% ao ano. Hoje, resta à Amazônia maranhense menos de 25% de sua vegetação original.
Para agravar ainda mais a situação, entre todos os Estados da Amazônia Legal o Maranhão é o que possui o menor grau de ocupação do espaço com áreas protegidas. Diante deste cenário, as Terras Indígenas Alto Turiaçú (530.525ha), Awá (118.000ha) e Carú (172.667ha), bem como a Reserva Biológica (Rebio) do Gurupi (278.000 ha) estão conectadas entre si e juntas representam, conforme o estudo que conta com a participação do Museu Goeldi, "o melhor e mais homogêneo espaço do bioma amazônico no Maranhão". Em outras palavras, mesmo que sofram com pressões em diversas frentes, é nesta região que reside, também, a esperança de conservar o que ainda resta de Amazônia maranhense.
Estado do Maranhão. | Clique para ampliar
Ciência e “pré-Amazônia”
De acordo com Marlúcia Bonifácio Martins, do Goeldi, “no Maranhão não existe a cultura de integração entre instituições de pesquisa”. “Além disso, não temos recursos suficientes para a produção científica. Precisamos de uma política que leve em consideração a importância dos recursos naturais”, complementa Francisca Helena Muniz, professora da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).
Quanto menor a quantidade de informações sobre a Amazônia maranhense, mais difícil fica argumentar em prol de sua conservação. No ano passado o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou o documento “Geoestatísticas de Recursos Naturais da Amazônia Legal 2003”. Em se tratando deste estudo, uma reportagem do jornal O Globo publicada em dezembro de 2011 afirma que "o Maranhão foi o último Estado a ter seus dados detalhados". A pesquisa científica da região, em termos gerais, é mais voltada às áreas de Cerrado do que às de Amazônia. Não à toa, pouco se sabe sobre o estado de conservação da maioria dos anfíbios e répteis da porção amazônica.
A falta de importância dada a esta região é histórica e começa na década de 80, quando a área de floresta no Maranhão começou a ser chamada de “pré-Amazônia”. "Este termo foi criado para passar a ideia de algo que tenha vindo antes da Amazônia com o objetivo de 'legalizar' o desmatamento da floresta como se ela não fosse floresta. Foi tão difundido que hoje é utilizado por pesquisadores mesmo que não tenha nenhum cunho científico", explica Francisca. "A sociedade maranhense não está ciente de que no Maranhão existe floresta amazônica. O termo 'pré-Amazônia´ é utilizado em livros escolares e induz a uma diferenciação que não existe", complementa Marlúcia.
Pesquisadores que atuaram na publicação do Goeldi acreditam que a criação deste termo tenha sido uma tentativa de se esquivar do limite de 80% das propriedades rurais amazônicas a serem mantidas como Reserva Legal, enquanto que para áreas de Cerrado este limite cai para 50%. Outra tentativa de aumentar o desmatamento da floresta no Maranhão veio em 2009, quando ruralistas se uniram em uma campanha para a retirada do Estado da Amazônia Legal.
Conservação
Eloísa Neves Mendonça, analista ambiental do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMbio), explica que o órgão tem “buscado aproximação com instituições para a conscientização de ONGs, sociedade civil, associações produtivas, assentamentos e produtores rurais para ações de conscientização à respeito da importância da região”. O primeiro passo é a realização de palestras. O segundo caminhará para programas de educação ambiental. O ICMbio espera, com isso, diminuir ações predatórias dentro da Rebio, considerada a porção mais importante de floresta amazônica remanescente no Maranhão e cuja área já teria sido pelo menos 25% desmatada.
A ação é mais do que necessária. Afirma o estudo do Goeldi, acertadamente: "mesmo com todas as dificuldades, a percepção da sociedade maranhense, brasileira e internacional sobre os problemas ambientais que ameaçam a Amazônia e a importância de sua conservação certamente poderão salvar a última fronteira amazônica do Maranhão". Quanto mais informação for gerada e difundida a respeito da região, maiores as chances de sua conservação.
Copie o código e cole em sua página pessoal: " size="60" style="margin: 0px; padding: 2px; vertical-align: middle; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; font-stretch: normal; font-size: 12px; line-height: normal; font-family: Arial, sans-serif;" type="text">
A mata dos cocais é distribuída
entre os estados do Maranhão e Piauí. É um bioma de transição, dessa
forma apresenta características da Floresta Amazônica, Cerrado e da
Caatinga. Possui alto índice de chuvas. A flora inclui palmeiras com
folhas grandes e finas, como a carnaúba, buriti e o babaçu, já a fauna
inclui répteis, aves e mamíferos roedores.
Médico Clínico e Sanitarista - Doutor em Saúde Pública - Coronel Reformado do Quadro de Dentistas do Exército. Autor dos livros "Sistemismo Ecológico Cibernético", "Sistemas, Ambiente e Mecanismos de Controle" e da Tese de Livre-Docência: "Profilaxia dos Acidentes de Trânsito" - Professor Adjunto IV da Faculdade de Medicina (UFF)
- Disciplinas: Epidemiologia, Saúde Comunitária e Sistemas de Saúde. Professor Titular de Metodologia da Pesquisa Científica - Fundação Educacional Serra dos Órgãos (FESO). Presidete do Diretório Acadêmico da Faculdade Fluminense de Odontologia.
Fundador do PDT, ao lado de Leonel Brizola, Darcy Ribeiro, Carlos Lupi, Wilson Fadul, Maria José Latgé, Eduardo Azeredo Costa, Alceu Colares, Trajano Ribeiro, Eduardo Chuy, Rosalda Paim e outros. Ex-Membro do Diretório Regional do PDT/RJ. Fundador do Movimento Verde do PDT/RJ. Foi Diretor-Geral do Departamento Geral de Higiene e Vigilância Sanitária, da Secretaria de Estado de Saúde e Higiene/RJ, durante todo o primeiro mandato do Governador Brizola.